OS TÊNIS UTILIZADOS POR ALGUNS DOS PRINCIPAIS TRIATLETAS PROFISSIONAIS DA SELEÇÃO BRASILEIRA.
As escolhas do passado e da atualidade: Algumas semanas atrás, decidi escrever um artigo relacionado aos tênis de corrida utilizados pelos triatletas brasileiros profissionais, tanto alguns que compõem a seleção brasileira de triathlon, quanto alguns que competem na longa distância.
O motivo foi em razão de algumas mensagens que recebo já há algum tempo por parte de corredores, mas principalmente, por parte dos triatletas amadores, sobre a curiosidade que os mesmos tem, sobre modelos utilizados pelos triatletas brasileiros profissionais.
Diante disso, comecei a entrar em contato com os atletas, convidando-os para participar sobre o tema.
Os triatletas falaram dos tênis que utilizaram no início de carreira como profissionais, a experiência dos modelos com placa de carbono e se algum tênis que usaram, poderiam ou não, ter contribuído para o surgimento de lesão, entre outras histórias.
Neste primeiro artigo, os relatos são dos triatletas da Seleção Brasileira que competem no Circuito Mundial de Triathlon Olímpico.
O segundo artigo será com os atletas que competem provas de longa distância.
Leia abaixo o relato de cada um:
LUISA BAPTISTA
ATLETA DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TRIATHLON – CLASSIFICADA PARA OS JOGOS OLÍMPICOS DE TÓQUIO 2021
“Eu usei bastante os modelos de competição minimalistas, com perfil de entressola muito baixo, como o ASICS Tartherzeal e o New Balance Hanzo tanto em treinos de pista, como em treinos de transição e treinos progressivos, terminando a parte final deste último tipo de treino em ritmo de prova.
Além de obviamente utilizá-los nas etapas do Circuito Mundial de Triathlon.
Nos treinos de rodagem eu sempre utilizei modelos mais estruturados.
Um fator importante que vale falar é que antes dos treinos de pista, faço o aquecimento com tênis de rodagem e só coloco o tênis de competição no momento dos tiros.
Quando o treino é finalizado eu realizo o desaquecimento também com o tênis de rodagem.
Felizmente, não tive nenhuma lesão na qual o tênis de corrida pode ter contribuído seja para o surgimento ou agravamento da mesma.
Minha experiência com tênis de placa de carbono começou na metade de 2020, sendo o 1º modelo utilizado, o Nike Vaporfly.
A minha adaptação à ele foi rápida. Tenho testado alguns modelos com placa de carbono e comparando com o Vaporfly, para definir não só o modelo para os Jogos Olímpicos de Tóquio, mas também para outras competições farei após os Jogos.
Com relação ao Nike Alphafly Next % que também tenho, comparando-o com o Vaporfly Next % achei o Alphafly mais responsivo em treinos de tiros com velocidade muito alta, porém, senti ele mais instável principalmente nas curvas.
Além disso, o fator negativo do Alphafly para o tipo de prova que faço é a dificuldade em calçá-lo e por isso, ele está descartado para as competições.”
VITTORIA LOPES
ATLETA DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TRIATHLON – CLASSIFICADA PARA OS JOGOS OLÍMPICOS DE TÓQUIO 2021
“Meu primeiro tênis como triatleta profissional foi um ASICS Noosa Tri.
Não me recordo qual foi a edição, mas me lembro que fazia todos os treinos com ele, assim como as primeiras competições no Brasil.
Nas provas da ITU, me lembro que o 1º tênis de competição que usei foi o ASICS Hyper Speed.
Como a Confederação Brasileira de Triathlon na época tinha a parceria com a ASICS, os triatletas que faziam parte da seleção brasileira e que não tinham patrocínio de marca de tênis, recebiam através da Confederação, alguns modelos para treinar e competir.
Outro tênis que me atende muito bem e que cheguei a competir algumas provas com ele, além de fazer treinos de pista, é o New Balance 1500.
É um tênis estável e firme de batida, que me atende bem.
Em 2019 eu nem sonhava em ter o patrocínio da New Balance, porém já utilizava o 1500.
A minha 1ª experiência com algum tênis com placa de carbono foi em 2019 com o Nike Vaporfly Flyknit e eu senti a diferença de resposta para os modelos de competição sem placa de carbono.
Foi minha única experiência com tênis com placa de carbono, até o momento em que fechei o patrocínio com a New Balance no início de 2020.
Atualmente os modelos que uso da New Balance são: o FuelCell TC (para os treinos de pista).
Nos treinos de rodagem utilizo os modelos de estabilidade moderada como o Vongo e o 860, já que tenho uma pronação acentuada e os tênis de estabilidade me atendem melhor.
O RC Elite eu deixo somente para as competições.
Tentei usar o Rebel para os treinos de pista, porém fico muito instável com ele devido ao meu grau de pronação.
Eu já tive algumas lesões na tíbia, mas não associo elas diretamente aos tênis que utilizei.”
KAUÊ WILLY
ATLETA DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TRIATHLON
“Meu primeiro tênis de competição quando iniciei no triathlon profissional foi um ASICS Piranha, sem dúvida, o modelo de competição de perfil mais baixo da marca.
Em seguida usei outro modelo de competição também com um perfil de entressola muito baixo que foi o Adidas Takumi Sen.
O Piranha ainda era um pouco mais baixo do que o Takumi, porém a batida do Takumi Sen era mais mais firme.
Costumo utilizar modelos de tênis diferentes de acordo com os tipos de treino que tenho.
Nos treinos de pista eu costumo utilizar um modelo que seja semelhante ao tênis de prova, principalmente com relação a resposta.
E para os treinos de rodagem, priorizo modelos mais estruturados com mais amortecimento.
Com relação aos tênis com placa de carbono, percebi que muitos atletas que competem o circuito mundial de triathlon começaram a usar, logo após o lançamento do Vaporfly 4% que aconteceu no final de 2017.
O meu 1º par com placa de carbono também foi o Nike Vaporfly 4%.
Senti bastante diferença quando mudei para o tênis com placa, já que o modelo de competição que eu utilizava nesta época era o Adidas Adios em competições e treinos de velocidade. Eu também utilizava um modelo de rodagem da Adidas.
Quando mudei para o Nike Vaporfly, também optei por mudar o modelo para os treinos de rodagem usando os Nike Pégasus e o Vomero.
Sem dúvida que a resposta do Vaporfly 4% em comparação com o Adios que eu competia era enorme na propulsão.
Ainda tenho um Vaporfly Flyknit 4% que deixo para fazer os treinos mais leves de pista e o Vaporfly Next % para os treinos de pista com mais intensidade, além de utilizá-lo nas competições.
Atualmente tenho utilizado um modelo da New Balance para rodagem com uma intensidade mais alta, mas não lembro o nome dele.”
MIGUEL HIDALGO
ATLETA DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TRIATHLON
“Meu primeiro tênis de corrida (que era um modelo de competição), foi o Brooks T5 Racer, um dos melhores tênis que já tive até hoje.
Na época que usava este tênis eu fazia umas corridas Kids e nem pensava em ser atleta profissional. Eu tinha uns 8 anos e este Brooks usei além do limite da durabilidade.
Em 2015 foi o ano que foquei nas competições de triathlon e o meu tênis inicial foi o ASICS Nimbus, porém achava o tênis muito pesado e então mudei para o Adidas Adios, fazendo todos os treinos e provas com este tênis.
Com o Adios, conquistei meu 1º título de triathlon, sendo Campeão Brasileiro Infantil naquele ano.
Após este período continuei competindo com o Adios por um tampo e para os treinos de rodagem, eu comecei á utilizar o Adidas Boston.
Tive a oportunidade de testar um outro modelo de competição que era o ASICS Hyper Speed e comparado com o Adios, senti este modelo com uma resposta melhor, lembrando bastante o Brooks T5 Racer que tive.
Então comecei a usar o Hyper Speed nas competições entre 2016 e metade de 2017.
Quando o Hyper Speed saiu de linha, comecei a usar o ASICS Tartherzeal logo que chegou ao Brasil, me adaptando rapidamente à ele.
Nos treinos de rodagem, continuava utilizando o Adidas Boston e alternando ele com um Nike Pegasus 33.
Quando a Nike lançou a 1ª edição do Zoom Fly no final de 2017, comprei um par e passei a utilizá-lo em praticamente todos os treinos e em algumas competições, revezando com o Tartherzeal.
Em 2018 a Nike lançou a 2ª edição do Zoom Fly e este tinha placa de carbono.
Logo comprei um par, senti que gostei bem mais do que o 1º e passei a usá-lo para treinos e competições.
Tive vários pares da 2ª edição. Como ele deu certo, comprei o Zoom Fly 3 quando foi lançado e neste período, comprei também o Vaporfly Next %.
Para revezar com o Zoom Fly 3 comprei um Skechers Razor 3, porém, não me adaptei.
Então mantive o Vaporfly Next% para competir, o Zoom Fly 3 para treinar e comprei um Nike Pegasus 37 para alternar com o Zoom Fly dependendo do tipo de treino.
Tenho uma leve pronação no pé esquerdo e algo que comecei a notar quando faço treinos de pista com o Vaporfly com volume mais alto, foi o surgimento de dor no tendão de Aquiles do pé esquerdo, em decorrência da instabilidade gerada pelo Vaporfly para a minha condição.
Por esta razão, diminui o uso do Vaporfly em treinos de pista e dei uma parada temporária em usar também o Zoom Fly 3, uma vez que ambos tem praticamente a mesma configuração no contra-forte.
Continuo treinando com o Pegasus 37 e comecei a alterná-lo recentemente com o Hoka Carbon X 2 e o desconforto no tendão de Aquiles esquerdo, não tem surgido.
Para alguns treinos de ritmo eu tenho utilizado o Hoka Rocket X, alternando-o com o Nike Zoom Fly Flyknit (2ª edição), que pra mim, gera um pouco menos de desconforto no calcanhar do que o Zoom Fly 3.
Sem dúvida que em uma oportunidade, testarei outros modelos com placa de carbono, principalmente os que foram lançados recentemente como o Adidas Adios Pro 2 e o novo ASICS Metaspeed Sky.
Por enquanto sigo com o Vaporfly Next % para as competições.”
REINALDO COLUCCI
ATLETA DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TRIATHLON – PARTICIPAÇÃO NOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2008 E 2012
“Em 2004 quando fiz o meu 1º Ironman Brasil, usei um Nike chamado Zoom Marathon.
Na época eu tinha um apoio da marca e lembro que me enviaram alguns modelos de competição, sendo este que corri o Ironman Brasil. Outro modelo de competição muito conhecido e de perfil muito baixo que chamava Zoom Katana Racer.
Após o Ironman Brasil de 2004, eu recebi uma proposta de patrocínio da Reebok que nesta época, estava lançando uma linha de tênis de corrida chamada de Premier.
Da linha de competição o principal modelo era o Lite Premier 3D.
Foi ele que passei a usar em competições e o que chamou a minha atenção foi que após 80km de uso, considerando ser uma baixa quilometragem, o tênis já não respondia como quando comecei a correr com ele.
Após a minha saída da Reebok, fiquei sem patrocínio de marca de tênis por um período de 1 ano e tive uma proposta da Avia, uma marca com pouca visibilidade no Brasil e com pouca variedade de modelos.
O principal modelo de competição era o Bolt com perfil de entressola muito baixa. Eu fiquei por um período muito curto na Avia e logo tive a proposta da ASICS.
Na ASICS o leque de opções era grande, tanto para treinos de rodagem, quanto para treinos de velocidade e competição.
Usei bastante o DS Racer e outro modelo que usei em treinos e competições foi o Noosa Tri edição 25 anos que pra mim foi a melhor edição.
As edições seguintes que a marca lançou do Noosa, chamavam a atenção pelas cores, porém a cada edição lançada, o tênis parecia estar mais rígido de batida.
O Hyper Speed foi outro modelo de competição que usei, mas não respondia como o DS Racer.
O modelo com mais estrutura que usei da ASICS para treinos bem leves foi o Nimbus.
Com relação a lesão que tive no tendão de Aquiles, acredito que o tênis deu uma pequena contribuição para o agravamento da lesão, considerando que utilizava o mesmo modelo, no caso o DS Racer para todos os treinos.
E esta contribuição no meu ponto de vista não se deve ao fato de o DS Racer ser um tênis de competição, mas sim, pelo desgaste gerado no tênis em diferentes áreas e do meu uso contínuo.
Mas é importe deixar claro que o fator principal que gerou a lesão no tendão foi o volume e o acumulo de treino na época.
Após a cirurgia no tendão, passei a utilizar de 3 a 4 modelos diferentes nos treinos e desde então não tive mais problemas.
Atualmente para os treinos de rodagem eu utilizo o New Balance Beacon, o Saucony Kinvara para os treinos de ritmo, o ASICS Tartherzeal para os treinos de velocidade, e o Nike Vaporfly Next % para as provas.
Me adaptei bem ao Vaporfly Next %. O meu 1º modelo com placa de carbono foi o Nike Vaporfly Flyknit, porém comparando ele com o Next, pra mim a resposta dele é inferior.
Na minha opinião o efeito de resposta que um tênis com placa de carbono gera, não está diretamente ligado somente à placa de carbono, mas sim, ao posicionamento da placa no tênis agregado a maciez da espuma da entressola produzido por cada marca em diferentes modelos.”
DIOGO SCLEBIN
ATLETA DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TRIATHLON – PARTICIPAÇÃO NOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2012 E 2016
“Eu tive uma parceria longa com a ASICS de 2011 á 2016, que se encerrou após os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, de forma que a minha experiência com tênis de corrida é com os tênis da ASICS até hoje.
Com relação à modelos para treinos de rodagem, sempre treinei com tênis mais pesado e com um pouco mais de estrutura.
O tênis que sempre me atendeu bem para esta condição de treino foi o ASICS Cumulus.
Quando digo que ele é mais pesado, estou me referindo e comparando com o peso de modelos de performance.
Mas comparando com o Nimbus, um modelo muito conhecido e que é o principal modelo de amortecimento da marca, o Cumulus é um pouco mais leve.
Dos modelos de competição eu usei bastante o Hyper Speed e também o Hyper Tri.
Nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, a ASICS enviou para os atletas um Hyper Speed que era a edição especial dos Jogos, porém eu treinei com ele na semana da prova e comparado com os Hyper Speed que eu utilizava antes, achei esta edição com uma batida muito seca e por isso, acabei optando por fazer a prova com o Asics Hyper Tri 2.
Utilizei dois outros modelos da marca, que são considerados modelos intermediários com relação as diferentes variações de treinos que se pode fazer, porém, são tênis que sinto a batida bem firme, principalmente em treinos de velocidade.
São eles o ASICS Dynaflyte 1 e o ASICS DS Trainer 20. Apesar do Dynaflyte 1 ser um tênis neutro, considero tão firme de batida quanto o DS Trainer 20 que é de leve estabilidade.
Por incrível que pareça, ainda não tive a oportunidade de correr com um modelo de competição com placa de carbono, pela dificuldade em encontrar no meu tamanho, principalmente o Nike Vaporfly.
Como calço tamanho 13 americano, é difícil encontrar o Vaporfly neste tamanho. Como estou em um período de treinamento na Europa, espero conseguir comprar e testá-lo.”
Estes foram então, os relatos dos atletas.
Gostaria de agradecer a participação dos triatletas, que tiveram que encontrar um intervalo entre um treino e outro, para conversar comigo. À vocês, meu muito obrigado.
E espero que você, Leitor, goste deste conteúdo.
Na próxima semana, publicarei um novo artigo Parte 2 sobre as escolhas do passado e da atualidade com os atletas que competem provas de longa distância.